A broca do cafeeiro ( Hypothenemus hampei ) é um coleóptero que apesar de estar tirando muito sono de cafeicultor. O inseto ganhou destaque nas últimas safras com a proibição do Endosulfan (molécula do grupo poluentes orgânicos persistentes (POPs)) até então, principal produto utilizado para controle. Com poucas opções de inseticidas no mercado, cafeicultores passaram a ter dificuldades no seu controle.
Os motivos para se preocupar com esse pequeno besouro são muitos: queda precoce dos frutos, apodrecimento da semente, contaminação de micro-organismos afetando a qualidade da bebida, perda de peso, depreciação do tipo, ou seja, diminuição do preço da saca.
É fato que muito se aprendeu com o manejo da broca nos últimos anos, principalmente no capricho da colheita, com repasse, porém na safra atual é motivo de preocupação pois os danos ainda são significativos.
Não podemos agir da mesma forma que no passado, precisamos ser técnicos nas tomadas de decisões, acertar o momento certo do controle. Ao contrário do Endosulfan, o controle do inseto quando atinge o fruto internamente é muito baixo, quase nulo, e por isso as maiores eficiências são durante a revoada ou trânsito entre os frutos remanescentes da safra. Mas, como irei saber o momento da revoada? Há indicações na literatura, e muitos cafeicultores ainda levam isso em consideração, que a revoada se dá 80 a 90 dias após a principal florada, época então para se iniciar os monitoramentos.
Porém, o que notamos a campo nas últimas safras é algo bem diferente disso. Muitas brocas revoando logo após as primeiras chuvas, antes mesmo da florada, momento este que estão desprotegidas, indicando então uma eficiência muito maior no controle.
O gráfico a seguir apresenta os dados de campo de uma fazenda no sul de Minas, na safra de 2018/2019 (safra que se marcou por alta pressão do inseto). Os monitoramentos em outubro já apresentavam média superior a 50 brocas capturadas em armadilhas. Diante disso, realizamos o controle químico e notamos uma drástica redução na captura (redução da população da praga), no final de dezembro, notamos o número se aproximando de 40 brocas e realizamos a mesma pulverização, reduzindo novamente a população.
O motivo da tomada de decisão da segunda aplicação foi o monitoramento dos frutos, quando os mesmos passaram de 1% de infestação. Aplicamos e observamos uma redução no ataque da praga. O sucesso foi em razão do besouro não estar internamente no fruto. No final saímos no último monitoramento com menos de 1% de frutos brocados com brocas vivas.
Diante disso, já notamos a extrema importância das armadilhas para o monitoramento da revoada e a melhor hora da intervenção. Elas são simples e funcionais, confeccionadas com garrafas pets e solução de metanol, álcool e café moído, que atrai a praga. Os monitoramentos devem ser feitos ao menos quinzenalmente, e anotando-se as informações. Não há um número exato de brocas capturadas para agirmos, isso dependerá do histórico do talhão, carga pendente, etc. No geral, agimos quando capturamos 10 brocas por armadilha.
Foto: detalhe para armadilha de monitoramento de broca.
Em relação a qual controle utilizar, não notamos maiores eficiências quando utilizamos tratamentos mais caros. Sobre tratamento biológico, que vem crescendo dia a dia, é uma boa ferramenta que deve ser utilizada com critério ainda maior (condições de tempo, cuidados na aplicação, temperatura). E se falando de horário de aplicação, há trabalhos que demostram maior revoada a partir das 16:00 horas, ambiente então mais propício para pulverização eficiente, seja ela biológica ou química.
Em resumo, caprichar na colheita, antecipar o monitoramento com a utilização das armadilhas logo após a colheita e agir cedo, no momento correto pois em janeiro, fevereiro pode ser tarde demais para o êxito no controle.
Autor: Daniel Cesário da Silva - Eng. Agrônomo
Consultor e Franqueado ViaVerde Agroconsultoria